Breves reflexões sobre temas relevantes

Trabalho compulsório para presidiários:

A favor. Presidiários têm de se redimir perante a sociedade fazendo algo prestante. É um absurdo que os cidadãos sustentem criminosos com dinheiro público para que estes passem o dia inteiro dormindo, lendo e tomando sol no pátio. Além disso, a utilização de mão de obra carcerária ajudaria a produção nacional, atualmente bastante aquém do que poderia ser.

 

Aborto:

A favor, com ressalvas. Se o aborto fosse totalmente liberado, para todo e qualquer caso, creio que se instauraria um caos na saúde. Em casos em que o aborto é justificável, sou favorável. Exemplo: um casal que não tem condição alguma de criar um filho ou um casal que já tem vários filhos e não pode sustentar mais um. Se o casal tinha total consciência de que a gravidez seria o resultado da cópula, não tomou absolutamente nenhuma precaução para evitar a inseminação e ainda tem todas as condições necessárias para cuidar do bebê, não há justificativa para abortar. Caso contrário, os hospitais se lotariam de adolescentes irresponsáveis que “se divertiram” num final de semana sem nenhuma proteção (ou responsabilidade). Obviamente, o aborto nos casos de gravidez forçada (estupro), risco à vida da mãe e má-formação do feto (merocrania e anencefalia, por exemplo) deveria ser mantido legal. Uma questão importante a ser ressaltada é que a maioria absoluta das pessoas contra o aborto defende seu posicionamento com algum argumento religioso ou espiritual (“minha religião não permite tal ato”, “a vida é um presente de Deus” etc.). Sendo o Estado laico, as leis não podem se basear em religião alguma e têm de ser válidas para todos, quer tenham uma religião, quer não tenham. Vale apontar também que, ao contrário do que pregam exaltadamente muitas feministas, o aborto não é uma questão que concerne somente às mulheres. Os homens têm todo o direito de se preocuparem com o assunto e opinarem, inclusive porque são 50% “proprietários” do feto, de modo que a opinião dos pais deve ser considerada tanto quanto a das mães.

 

Pena de morte:

A favor, com ressalvas. Só deveria ser aplicada para casos extremos, ou seja, para crimes hediondos, e de comprovação indubitável, aqueles em que não há dúvida sobre o perpetrador. Um exemplo do primeiro quesito seria um assassino em série psicopata que matou e esquartejou dezenas de pessoas, não um pobre coitado que roubou um pote de margarina da padaria da esquina. Do segundo, uma filmagem que serve de evidência incontestável de que foi fulano quem cometeu o ato. Somente teste de ADN não seria suficiente, já que, mesmo que meu ADN seja encontrado na cena do crime, nada prova que realmente fui eu que matei a pessoa encontrada no local.

 

Prisão perpétua:

Contra. Se uma pessoa é tão perigosa a ponto de ser considerada irreparável e impossível de se reintegrar na sociedade, então talvez seja melhor dar um fim nela. Afinal, quem sentiria falta de um psicopata ? A sociedade é melhor sem ele que com ele. Além disso, durante todo o tempo que lhe restasse de vida, esse criminoso ocuparia lugar nas penitenciárias já superlotadas e seria sustentado pelo erário. Eliminá-lo é matar vários coelhos com uma cajadada só. Por outro lado, se a pessoa não oferece tal risco à sociedade e tem condições de voltar a viver normalmente nela, que passe alguns anos aprisionada para refletir sobre seus erros e depois seja liberada para poder aproveitar sua segunda chance. Condená-la a “viver” presa seria uma tortura desnecessária.

 

Liberação das drogas:

A favor, com ressalvas. Quando falo de liberar (ou legalizar) drogas, entendo que falamos apenas das drogas consideradas recreativas. Entre elas estão a maconha e o LSD, substâncias leves e inofensivas em comparação com crack, cocaína, heroína, metanfetamina e outras. Apesar de o abuso acarretar efeitos colaterais sérios (a maconha geralmente é fumada, o que causa óbvios problemas pulmonares, e o uso constante de LSD pode levar à esquizofrenia), quando tais drogas são utilizadas moderadamente, pouco pode se falar em dano ou prejuízo (afinal, o excesso de absolutamente qualquer coisa faz mal porque o próprio termo já evidencia que algo passou do limite aceitável). As “desculpas” dadas por qualquer cidadão para ingerir álcool ou fumar um cigarro comum, ambas drogas legalizadas, podem também ser usadas para justificar o consumo de maconha e LSD. Absolutamente todas: diversão, descontração, entretenimento, tradição histórica, hábito familiar, costume pessoal, mania, teimosia, entrosamento social, mitigação da inibição etc. Na prática, portanto, o que vemos é um grande preconceito contra as drogas recreativas ilegais vindo justamente de absolutos hipócritas que fazem exatamente a mesma coisa, mas com drogas recreativas legais. Temos que considerar também a relevância da aplicação de drogas em tratamentos médicos (e, obviamente, deve haver um consenso científico sobre sua utilização medicinal para delimitar as doses seguras). Minha ressalva quanto ao assunto é que a comercialização dessas drogas, se liberadas, deveria ser feita de modo profissional, seguindo todas as regras do mercado, isto é, com a formalização dos donos de lojas que desejem vendê-las. Dessa forma, a venda de drogas se tornaria um negócio lucrativo e contribuiria com a nação por meio de arrecadação de impostos e geração de emprego, trazendo, assim, benefícios à sociedade como qualquer outro comércio.

 

Eutanásia e suicídio assistido:

A favor. Toda pessoa deve nascer livre e ter o direito de fazer absolutamente o que quiser com sua própria vida, inclusive acabar com ela. Se alguém decide que não quer mais viver, temos de respeitar essa decisão. Se a pessoa não pode se comunicar e expressar sua opinião, deve-se considerar não a opinião da família, mas a opinião técnica dos médicos: se há chances de o sujeito sobreviver, vale a pena mantê-lo vivo por mais algum tempo. Se é só uma questão de tempo até ele falecer, por que não acabar logo com o sofrimento ?

 

Redução da maioridade penal:

A favor. Qualquer ser humano normal tem consciência do que faz por volta dos 15 anos. Considerando uma margem de erro, coloquemos 16 anos como a idade em que, seguramente, uma pessoa sabe que, se cometer um crime, pagará por isso. Isso significa que, nessa idade, sabemos o que é “certo” e o que é “errado” e conseguimos pensar de forma crítica sobre nós mesmos e sobre a vida. Se o que digo não fosse verdade, deveríamos proibir um adolescente de 16 anos de eleger um presidente, uma decisão de peso que afeta milhões de pessoas e pode mudar o rumo de um país. Não existe motivo algum para não punir um indivíduo dessa idade se ele fez algo considerado errado por determinada sociedade. Casos especiais incluiriam pessoas com deficiências e distúrbios mentais e pessoas coagidas a cometer crimes. Esses deveriam ser analisados de forma cuidadosa e particular, podendo ser aberta alguma exceção se julgada necessária pelas autoridades competentes.

 

Idade mínima para ingestão de álcool:

Deve ser a mesma idade estabelecida para o quesito acima, ou seja, a idade em que uma pessoa já tem plena consciência de si e do mundo que a circunda e sabe das conseqüências que seus atos podem causar, sendo, assim, a responsável una por suas decisões e atitudes. Quer beber e estragar sua saúde, correndo risco de se tornar viciado ? Vá em frente, a vida é sua.

 

Reciclagem e ambientalismo:

A favor. Temos a obrigação de conservar o lugar onde moramos. A natureza não é uma fonte inesgotável de matéria, então devemos fazer o que pudermos para preservá-la, incluindo reciclagem e desenvolvimento de tecnologias que não dependam de fontes naturais findáveis.

 

Tratamento ético dos animais:

A favor. Como os seres biologicamente mais avançados do planeta, é nossa responsabilidade moral impedir que outros seres sofram injusta e desnecessariamente. Sempre que estiver ao nosso alcance, devemos protegê-los, inclusive porque eles não têm capacidade de raciocinar e de expressar sua sensações, como nós humanos temos.

 

Vegetarianismo e veganismo:

A favor, com ressalvas. Antes de qualquer coisa, deixemos claro: não há nada objetivamente errado em comer carne, tampouco em matar para comer. É o que se faz naturalmente em todas as espécies animais há literalmente milhões de anos. O que se deve evitar a todo custo é a matança irresponsável e cruel. É possível abater animais para consumo de forma pouco violenta e dolorosa, e é isso que deve ser praticado por todas as empresas alimentícias. É necessário, entretanto, que o governo fiscalize e multe (ou até feche) as companhias que continuarem maltratando animais. Tendo dito isso, confesso que não tenho nada contra vegetarianos e veganos, exceto quando se comportam de forma infantil, autoritária ou arbitrária. Como muitos religiosos, certos vegetarianos e veganos criminalizam o comportamento alheio e querem convencer a todos de que são paladinos absolutos da moral, detentores da mais alta virtude humanamente alcançável. Isso cansa, embora estejam certos a respeito de quase tudo que defendem. Eu mesmo me considero um semi-vegano no sentido de ter um estilo de vida comum a esse grupo: sou contra touradas, rodeios e caça esportiva (atividades de “lazer” que se fundamentam na dor e no sofrimento); não concordo com a matança de animais apenas para pegar deles alguma parte específica (dentes, chifres etc.); não compro produtos que tenham partes animais (carteiras, bolsas, cintos e sapatos de couro verdadeiro, casacos de pele etc.); não vejo necessidade de usarem animais em circos ou outras apresentações públicas de entretenimento; procuro evitar cosméticos que tenham sido testados em animais (apesar de que nem sempre isso é possível por falta de opção); enfim… Só não consigo ceder na questão alimentar. Cortar da dieta comidas de origem animal é impossível para mim.

 

Utilização de animais em laboratório:

A favor, com ressalvas. Há que se fazer aqui a distinção entre produtos meramente estéticos, conhecidos como “cosméticos”, e os medicinais, isto é, medicamentos que agem para curar alguma enfermidade. No primeiro caso, não vejo justificativa para não testá-los diretamente em humanos. A probabilidade de um cosmético, tal como um creme hidratante, ocasionar sérias reações em uma pessoa a ponto de matá-la é muito baixa. Por outro lado, remédios são drogas que possuem mecanismo de ação complexo e desdobramentos inesperados no organismo. Isso significa que a chance de algum problema que ofereça risco à vida do sujeito de pesquisa é bem maior, por isso tanto se fala nas questões éticas e morais dos testes clínicos. Se houvesse alguma forma precisa de analisar as reações a uma droga num organismo não-vivo (sintético ou artificial, como um robô), eu apoiaria a remoção de ratos e outros animais dos centros de pesquisa. Como não há, infelizmente temos de mantê-los lá. Há males que vêm para o bem. Da forma como a ciência progride a cada ano, não duvido que dentro de uma década ou duas tenhamos tecnologia suficiente para substituir esses animais de uma vez por todas. Entretanto, se houver a possibilidade de testes medicamentosos serem realizados diretamente em humanos perfeitamente cientes dos riscos que correm (e obviamente eles teriam de assinar um contrato ou termo de ciência afirmando que os pesquisadores não serão responsabilizados por qualquer eventual morte), não vejo nada contra. Cada um é responsável por suas decisões.

 

Pesquisas científicas consideradas polêmicas:

A favor, com ressalvas. Se a pesquisa ou experimento oferecer algum grande risco ao planeta, como aqueles que envolvem enorme quantidade de energia nuclear, talvez seja melhor não colocar em prática. Em qualquer outro caso, se o objetivo for benéfico à humanidade, eu apóio, inclusive aquelas pesquisas taxadas de “imorais” e “antiéticas” por grupos religiosos, como as com células tronco e fetos humanos. O progresso da ciência não pode ser impedido pelo moralismo.

 

Homossexualidade:

Nem a favor nem contra. Não tem como ser um ou outro. É como ser a favor das nuvens ou contra borboletas. Ambas existem e vão continuar existindo quer queiramos, quer não queiramos. Pode-se apenas aceitar sua existência e aprender a conviver harmoniosamente com elas. Particularmente, não tenho nada contra o homossexualismo e o considero razoavelmente natural do ponto de vista biológico.

 

Casamento homoafetivo:

 A favor. Com toda a sinceridade, sou contra o casamento em si. Por motivos que não convém explicar agora, acho algo insensato e fora de moda. Entretanto, se é da vontade das pessoas se casarem, não vejo por que não possam fazer isso, mesmo que sejam pessoas do mesmo sexo. Cada um cuida da sua própria vida.

 

Definição de família como “homem + mulher”:

 Contra. Família é aquilo que cada um considera ser. Para muitas pessoas, a família não é nem gente do mesmo sangue. Por que não poderia ser gente igual, ou seja, do mesmo sexo ? Desde que os pais consigam sustentar os filhos e os tratem bem, como se espera que pais tratem os filhos, não vejo problema.

 

Cotas:

Contra, com ressalvas. Pelo que percebo vivendo dia após dia, sou uma das poucas pessoas que gostam de realmente resolver os problemas, de cortar o mal pela raiz. Medidas paliativas, portanto, de nada adiantam. E o que é a cota senão uma medida paliativa ? Uma pseudo-solução ? Algo como “vamos tentar consertar anos e anos de erros e injustiça social com uma medida simples, indolor e ilusória, assim o povo se contenta e não precisamos mais tocar no assunto”. Para mim, a solução do problema é muito mais profunda. Os excluídos, as minorias, os desprivilegiados, os discriminados e os pobres têm de receber do governo as mesmas condições que os outros têm, desde o início. Tudo começa na escola. Dê-lhes a mesma educação e as mesmas oportunidades e não será necessário criar vagas especiais para eles nas escolas, universidades ou empresas. Dito isso, reconheço com pesar que para que tal idéia saísse do papel, seria preciso reformular por completo nosso sistema educacional, algo assaz complexo, demorado e custoso. De praxe, as pessoas costumam fugir de tudo que não seja fácil, rápido e barato, daí entendemos por que mudar a situação sócio-político-econômica de uma nação já no fundo do poço é uma tarefa que beira a impossibilidade. Unicamente por esse motivo, penso que as cotas devam ser mantidas pelo presente momento, mas sempre com o objetivo de chegarmos ao ponto em que elas deixem de ter propósito. De forma resumida, um mal necessário.

 

Separação Igreja-Estado:

A favor. Política e religião são coisas distintas e que nunca mais devem se misturar. Digo “nunca mais” porque já tivemos vários exemplos no passado e todos nos provaram que essa união não dá certo. Um governo religioso resulta em parcialidade, suspensão da razão e do pensamento crítico, perseguição religiosa/ideológica, repressão e justificação para atrocidades estatais. O Estado laico é uma conquista política imensurável resultante de séculos de Renascença e Iluminismo, devendo ser preservada como qualidade elementar em qualquer país que já a adote e instaurada onde ainda não exista.

 

Patriotismo:

Contra. Como ninguém escolhe o país onde nasce, é mera idiotice ter apreço por ele só porque foi onde se nasceu. Deve-se elogiá-lo quando merece e apontar seus defeitos quando preciso, sempre de forma equilibrada e sensata. O nacionalismo, portanto, é ainda mais ilógico em minha visão.

 

Democracia:

A favor, com ressalvas. Em sua vasta maioria, o povo (entendido aqui de forma genérica como “a massa”) é ignorante. Logo, dar a essa parcela majoritária o poder absoluto de decidir por todos, inclusive os poucos que não são, é algo no mínimo perigoso, principalmente quando se consideram os complexos desdobramentos de decisões políticas. Resumida, a democracia é uma forma de governo em que a maioria ignorante decide pela minoria culta. Entretanto, quando se fala de formas ou sistemas de governo, é necessário considerar sua viabilidade (ou aplicabilidade) prática, e dentre todas as opções viáveis, aquelas que são possíveis de serem realizadas (comunismo descartado, portanto), ela parece ser a menos pior. Antes ela que algum regime militar, governo totalitário ou uma monarquia. Vale a pena ressaltar que esse defeito da democracia apresentado aqui só se apresenta em países onde a massa é pouco educada (e de fato o Brasil tem um dos piores sistemas educacionais do mundo). Se o nível de escolaridade e de conhecimento de mundo da população for alto, como nos países escandinavos, não vejo grandes problemas no sistema de decisão majoritária.

 

Feminismo:

Contra. Infelizmente, o feminismo acabou se tornando igual ao machismo que ele tanto criticava inicialmente. Hoje, não passa de um movimento hipócrita que luta para empoderar as mulheres em seu feroz e insensato ataque aos homens, buscando sempre mais privilégios e vantagens e menos responsabilidades e deveres. “Direitos iguais” só quando convêm; caso contrário, são convenientemente ignorados.

 

Igualitarismo:

A favor. Tratar todos da mesma forma é a maneira mais justa e sensata de se construir uma sociedade progressista e harmoniosa. A partir do momento em que um grupo é reprimido ou recebe algum privilégio, a sociedade começa a desandar. Igualdade só é igualdade se for indiscriminada, isto é, se valer para todos de forma cega.

 

Comunismo:

Contra, com ressalvas. Ideologias à parte, fazendo uma análise tão imparcial quanto possível, o pior que pode ser dito do comunismo é que ele é absolutamente impraticável, inviável, inaplicável, utópico, fictício, fantasioso, ilusório. Trata-se de uma doutrina político-econômica que propõe a extinção de três princípios básicos de todas as sociedades: a propriedade privada, as classes e o governo (ou o Estado). Em outras palavras, espera-se que a massa saiba exatamente o que fazer (no sentido de ter consciência de suas funções naturalmente), seja capaz de se autogovernar (autolegislar, autorregular, autocontrolar, autofiscalizar e autodesenvolver), não possua nada (afinal, tudo é de todos) e não se divida em estratos sociais (todos têm o mesmo nível). Diga-me um povo ou comunidade no mundo que tenha conseguido essa façanha e prosperado e toda a minha argumentação desmoronará. Você não encontrará um único exemplo, pelos motivos que seguem: a propriedade privada é instintiva. Desde que o homem é homem há o desejo natural de possuir aquilo que se encontra na natureza, mesmo que seja pelo simples prazer de apontar para uma pedra no chão e dizer “é minha”. Isso nos confere uma ideia de conquista e poder que acalenta o ego. De fato, o sentimento de posse existe até em outras espécies (mais aparentadas a nós biologicamente). A estratificação social existe como resultado ou consequência natural de fatores pessoais (incluindo a personalidade de cada indivíduo) e sociais (tais como as injustiças e a desigualdade). Isso significa que o fato de uma pessoa ser pobre e outra ser rica pode ser explicado tanto pela falta de oportunidades de uma e as oportunidades abundantes da outra quanto pela falta de ambição ou vontade de uma e o desejo de crescimento e mudança da outra. Depende muito do caso. Quanto ao governo, é preciso dizer que, embora ninguém nunca esteja 100% satisfeito com ele e críticas sempre se façam necessárias, ainda não encontramos forma melhor de guiar a sociedade. É preciso colocar alguém no poder para comandar a organização formal do povo (isto é, o Estado), seja uma única pessoa, seja um grupo delas. Todavia, creio que sempre haja um lado bom e um lado ruim em tudo. Quero com isto dizer que, apesar de quimérico, o comunismo tem conceitos que valem a pena ser estudados e até cogitados para implementação no nosso “mundo real e concreto”. Entre eles, a ideia de que o povo precisa de certa autonomia, inclusive no que diz respeito à sua independência do Estado (para que não criemos pessoas dependentes, que passem a vida toda esperando auxílio do governo) e também a ideia de que precisamos nos organizar socialmente para ajudar uns aos outros quando possível, pois nenhuma comunidade sobrevive com membros isolados, agindo egoisticamente. Lembremo-nos de que a base do termo “comunismo” é a mesma de “comunidade”: comum.

 

Capitalismo:

 A favor, com ressalvas. Infelizmente, perfeição não existe. Logo, é apenas uma obviedade dizer que o capitalismo é falho. Particularmente, não vejo nada de errado em trabalhar, ganhar dinheiro e depois comprar algo, que é basicamente o rito capitalista. O problema é que, numa sociedade capitalista, o dinheiro é venerado, fazendo do consumo exacerbado não só uma simples conseqüência, mas um objetivo natural, uma prática da qual se orgulham os endinheirados. Isso, é claro, sem falar nas injustiças sociais suscitadas por esse tipo de sistema econômico. Creio que o ideal fosse uma versão desse sistema que visasse nossas necessidades mais básicas, sem estimular o excesso de acumulação de riqueza ou a ganância; um “Capitalismo Moderado de Existência”, por assim dizer. A idéia seria “compre mais aquilo de que você necessita do que aquilo que você deseja”.

 

Gênero como constructo social

Contra. O discurso dos que defendem essa idéia gira em torno do argumento de que sexo biológico e gênero são coisas distintas, e até esse ponto eles têm razão. De fato, sexo e gênero não são a mesma coisa. O problema surge quando essas pessoas tentam desassociar um do outro por completo, alegando que o gênero pode se desenvolver de modo inteiramente independente do sexo da pessoa. Mais especificamente, alegam que o gênero é “ensinado” ou que as pessoas são influenciadas socialmente nesse sentido, para que desenvolvam um determinado gênero mais “conveniente”. Dizem que em épocas e lugares diferentes, as pessoas vestem roupas diferentes e falam de formas diferentes, uma “prova” de que o gênero é moldável. Bem, se a discussão toda se resumisse a isso, não haveria discórdia, pois se trata de algo bastante óbvio: realmente, certas características superficiais como vestimenta e linguajar são extremamente mutáveis, e não fixas. Elas dependem da época, do local e, conseqüentemente, da cultura daquele povo. Acontece que gênero é algo bem mais profundo, que não pode ser analisado apenas tendo como referências alguns traços visuais ou linguísticos: é uma gama de comportamentos e atitudes que se esperam da pessoa. É, acima de tudo, uma questão comportamental. Pode-se dizer que o gênero é algo interno, não externo, ainda que ele possa, sim, ser exteriorizado de algumas formas. Ao redor do mundo, em qualquer período da história, homens fazem “coisas de homem” e mulheres fazem “coisas de mulher”. Significa isso dizer que, só por um homem ser homem, existe uma série de comportamentos e atitudes que dele são esperados, isto é, bastante previsíveis. Não falo aqui dos “papéis sociais”, porque estes, em certa medida, também se alteram. Por exemplo, há, hoje em dia, um considerável número de famílias regidas pela mulher, algo impensável em séculos passados. O que não há, e você há de convir, são sociedades onde a segurança da casa (ou da comunidade como um todo) seja uma responsabilidade feminina, enquanto homens se trancam no quarto ao ouvirem um barulho no meio da noite. Diga-me um lugar no mundo onde isso ocorre e meu argumento cairá por terra. Pensando bem nesse exemplo, você concluirá que é meramente lógico que a segurança seja uma responsabilidade masculina: o homem é mais forte que a mulher. É, portanto, um claro exemplo de que a biologia se sobrepõe à psicologia. Não podemos ignorar os efeitos que nossa constituição física têm sobre nossa personalidade e nosso pensamento em geral, os quais, por conseguinte, ditam nossas atitudes e comportamentos no dia a dia. O estereótipo do homem racional e da mulher sentimental não existe por acaso: ele se baseia em atributos marcantes e instintivos dos gêneros masculino e feminino. Quero com isso dizer que, apesar de haver exceções, de modo geral é assim mesmo: a mulher se guia pela emoção e o homem, pela razão. Em todas as épocas, em todos os países, sempre houve mais mulheres interessadas em enfermagem e mais homens interessados em matemática. Isso não é uma incrível coincidência: espera-se do gênero feminino um cuidado maior com o próximo do que do gênero masculino, advindo principalmente do instinto materno, que o homem simplesmente não possui. Por outro lado, o pensamento lógico é inato ao homem porque desde sempre foi ele quem precisou encontrar as saídas para os problemas, das cavernas até hoje, sem contar que o cérebro do homem é maior (entre 8% e 13%) e contém mais neurônios, o que significa um número maior de conexões sinápticas e justifica um pensamento mais rápido. Mulheres não gostam de matemática e homens não gostam de enfermagem, resumindo apressadamente. O que significa isso? Sexo e gênero estão associados intimamente, e não dissociados. Em suma, não se pode discutir gênero com base em superficialidades. O assunto vai muito além da velha história do azul e do rosa e, para se o compreender melhor, uma análise mais abrangente e sobretudo não motivada ideologicamente se faz necessária.

 

Educação sexual na escola:

A favor, com ressalvas. Falar sobre sexo com os filhos é essencialmente uma tarefa dos pais, não de estranhos. Aos professores, caberia ensinar meramente o currículo padrão, que já inclui biologia e inevitavelmente aborda o tópico “sexo” uma hora ou outra, mas apenas do ponto de vista “técnico”. Contudo, é fato constatável empiricamente que os pais estão falhando nesse seu dever numa proporção cada vez mais alarmante. Seja por vergonha em tratar de um tópico tão delicado e constrangedor, seja por mera falta de conhecimento, pais e mães têm evitado lidar com isso e o resultado podemos ver de duas formas distintas: gravidez precoce e propagação de doenças sexualmente transmissíveis, duas coisas que poderiam facilmente ser evitadas se os adolescentes tivessem mais informações a respeito. O ideal seria que profissionais da área, incluindo sexólogos, psicólogos e médicos, dessem esse aporte de conhecimentos de suas áreas nas escolas. Nesses ensejos, seria interessante que se mencionassem todos os métodos contraceptivos, a facilidade com que uma DST pode ser contraída e as consequências que uma doença ou um bebê acarretar-lhes-iam. De resto, num sentido mais “íntimo”, incluindo experiências pessoais, a responsabilidade continua sendo dos pais.

 

Educação religiosa na escola:

Contra. Para dar as mesmas oportunidades a todos os alunos, a matriz curricular deve ser a mesma em todas as escolas, mesmo nas que não são dependentes do governo (particulares). As disciplinas a serem ensinadas devem ser as consideradas elementares (português, matemática, geografia, história etc.). Religião, sendo algo de foro íntimo e extremamente divergente de uma família para outra, só poderia ser ensinada em igrejas, templos, mesquitas, sinagogas e outros estabelecimentos religiosos. Além disso, religião não é assunto para se tratar com crianças. Somente quando adultas essas pessoas poderão decidir se serão religiosas ou não e, se sim, qual religião praticarão. Em outras palavras, religiosidade é algo pessoal demais para que seja tratado abertamente numa sala de aula e a insistência nisso fere a laicidade do Estado (inclusive porque, sabemos muito bem que não se trata de educação religiosa de modo geral, mas de uma religião específica: o cristianismo).

 

Armas de fogo:

A favor, com ressalvas. É direito de todo bom cidadão possuir uma arma para autodefesa. Sim, ela pode matar, mas um carro ou uma faca de cozinha também podem, então esse argumento não é suficiente para sua proibição. Não vamos sair por aí proibindo tudo que ofereça algum risco à vida ou à integridade física das pessoas. Entretanto, é meramente sensato e justificado que as pessoas façam testes psicológicos (avaliações emocionais) e práticos (aulas de tiro) rigorosíssimos para conseguir a habilitação da posse, assim como fazem para dirigir. Isso, em teoria, evita que essas armas caiam nas mãos de gente desequilibrada e/ou sem preparo técnico para atirar. É importante lembrar, nesse contexto, que praticamente todo bandido, assaltante ou sequestrador comete seus delitos armado. Não adianta negar a realidade: as armas existem e estão justamente nas mãos de quem não as deveria ter, que são as pessoas que as usam para praticar o mal. Nesse sentido, quando o cidadão honesto possui uma arma, ele meramente está contrabalanceando a equação. De fato, ele pode não conseguir usar essa arma num contexto de invasão domiciliar ou algo parecido, mas pelo menos ele terá uma chance. A consciência disso por parte do delinquente há de surtir algum efeito inibidor, ou seja, um assaltante pensaria duas vezes antes de pular o muro de uma casa se soubesse que o morador tem posse e poderia reagir. Uma troca de tiros certamente não está nos planos de um marginal que pretende roubar qualquer coisa para trocar por droga.

 

Vigilância constante do governo (câmeras por toda parte, escutas telefônicas, acesso a e-mails particulares etc.):

Contra. Pode dar impressão de segurança, mas não passa de ilusão. Como é impossível monitorar todos os cidadãos 24 horas por dia, para que tentar ? Além disso, o fundamental direito à privacidade é ferido por qualquer governo que espiona seu povo, mesmo que a intenção seja boa (prevenir terrorismo, por exemplo).

 

Leis que regulamentam a sexualidade:

Contra. O que duas ou mais pessoas maiores de idade em perfeita condição mental fazem entre quatro paredes, por mais que pareça estranho, não é da conta de ninguém. Se uma moça de 18 anos e um senhor de 65 querem ter relações sexuais, ninguém tem o direito de impedi-los, nem mesmo seus familiares. Da mesma forma, não temos motivo para proibir grupos de sadomasoquismo; se é o que eles gostam, o que temos com isso ? A lei da idade de consentimento (14 anos) é outra coisa que não entendo. De acordo com nossa lei atual, se uma pessoa com 13 anos tem relação sexual com outra, mesmo com consentimento, está constituído crime. Se a desculpa para essa limitação existir é a caracterização do crime de pedofilia, ou seja, abaixo de qual idade se pode considerar uma relação sexual pedofílica, a resposta é muito simples: o termo pedofilia diz respeito a crianças (“pedo” é “criança” em grego). Logo, deve ser considerada pedofilia a relação carnal com indivíduos de até 12 anos, pois, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, é esta a idade máxima para que se considere alguém uma criança.

 

Sexo antes do casamento:

 A favor. O momento de iniciar a vida sexual deve ser decidido por cada um, não por regras moralistas religiosas que só fazem atrasar nossa sociedade.

 

Bater como forma de educar:

 Contra. Bater em alguém é pura e simplesmente uma forma de violência, e com violência não se educa, se aterroriza. Se você quer que seus filhos o respeitem por meio do medo, dê-lhes chineladas. Se quiser respeito genuíno, aquele merecido e construído com o tempo, dialogue de forma saudável e esteja preparado para dizer “não”, a palavra mágica da educação filial.

 

 

© 23 de Agosto/14 de Outubro de 2015, com revisões e adições em 13 de Outubro de 2019 e 12 de Setembro de 2021, por Klaus die Weizerbüken. Cópia proibida.

~ por Klaus die Weizerbüken em 18/10/2015.

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